A quem serve o caos – Por Karim Miskulin

Quando um autor confesso de crimes bilionários lesivos à sociedade recebe de parte dos procuradores e juízes mais confiança do que o presidente da República, num momento chave para o Brasil sair do abismo, temos um sério problema.

Quando esse criminoso é um empresário que multiplicou a fortuna graças ao descaminho do dinheiro público em conluio com políticos, admite ter comprado até autoridades que deveriam investigá-lo e, ainda assim, ganha a liberdade, temos um problema mais grave ainda.

Quando esse personagem e sua família, depois de consumir reputações, abalar instituições e ameaçar a retomada da economia esperada por mais de 200 milhões de brasileiros, deixam o país sob a suspeita de ainda terem lucrado com as informações privilegiadas que eles próprios produziram, temos muito a lamentar.
Quando esse enredo ocorre no momento em que a sociedade deposita boa parte de sua escassa esperança na punição exemplar dos delinquentes de colarinho-branco, é o pior que poderia acontecer: depois de perder a confiança no Legislativo e no Executivo, agora a imagem do Judiciário, da Polícia e do Ministério Público corre o risco de ficar desacreditada.

Quando esse capítulo infame da história brasileira se desenrola, vemos uma nação atordoada por não saber em quem acreditar e muito menos quem apoiar.
Quando assistimos a esse despudorado uso das instituições a serviço de interesses pessoais, vislumbramos uma nação em processo de desintegração com dificuldade de se libertar das amarras do passado e de reforçar um senso de coletividade.

Que os fatos sejam apurados e, se comprovados, quem tiver de ser punido seja punido. Que a Justiça seja igual para todos. Que se faça justiça sempre, mas que ela não seja movida pela incitação ao caos. A quem interessa o caos?

Karim Miskulin é diretora executiva da Revista VOTO