É tempo de empreender, por Karim Miskulin

Em sua coluna no jornal o Diário de São Paulo, a cientista política e CEO do Grupo Voto, Karim Miskulin, escreve sobre a necessidade de o poder público, em todas as esferas, livrar-se da burocracia e dos ranços que desestimulam a implementação de novos modelos de negócios no Brasil. A autora refere-se aos empreendimentos baseados no regime de economia compartilhada, como serviços de caronas, aluguel de residências e compartilhamento de roupas . Essas oportunidades para gerar emprego e renda precisam ser acolhidas, em vez de rejeitadas por falta de compreensão. Leia a íntegra do artigo no site do Grupo Voto.

É tempo de empreender

O mundo passa por um momento de alta complexidade. A pandemia não nos dá trégua, provocando impactos econômicos muito grandes. No Brasil, mesmo com altíssimos níveis de vacinação, não é diferente, mas calma: há solução. Para sair dessa espiral de fatos mundiais negativos, não há uma saída simples. E, na verdade, ela não é única.

A dimensão do problema é tamanha que fazer a roda econômica continuar girando de maneira constante e ágil passa por um esforço conjunto de toda a sociedade, incluindo poder público, empresários e trabalhadores. Para o Brasil conseguir diminuir suas desigualdades e gerar cada vez mais emprego e renda é necessário um pacto que coloque todos na mesma direção. Não é hora de andar com o freio de mão puxado ou de impor obstáculos desnecessários causados por uma torcida contrária. É o momento de ter apenas um objetivo: o sucesso e a recuperação do Brasil.

Chegou o momento de o poder público, de todas as esferas, em especial as estaduais, destravar ações, tirar obstáculos para que o setor privado tenha liberdade e flexibilidade de gerar renda, riqueza e, mais do que tudo, postos de trabalho. E não se trata apenas de grandes reformas estruturantes, como a tributária, necessária para tornar o sistema mais justo, igualitário e racional. Passa também por estímulo ao empreendedorismo.

O brasileiro vê no empreendedorismo a saída para uma vida financeira mais auspiciosa neste momento de crise, aprofundada por uma pandemia persistente. Segundo recente estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 81% dos brasileiros estão dispostos a adotar mais práticas de consumo colaborativo no seu dia a dia, percentual similar em todas as faixas etárias e classes sociais.

Serviços de caronas, aluguel de residências e compartilhamento de roupas vieram para ficar e fazem parte do nosso cotidiano. Mas o compartilha-mento vai muito além, é uma oportunidade de um empresário pequeno se inserir em um negócio grandioso, com receitas substantivas. Colocar um ônibus à disposição de uma agência de turismo que atinge dezenas de passageiros nem se compara a disponibilizar esse mesmo ônibus em uma plataforma on-line que se conecta a milhões de clientes potenciais. É esse o pulo do gato na economia compartilhada.

Antes, as receitas estavam limitadas e, na grande maioria das vezes, fadadas à mingua. Apenas uns poucos empresários conseguiam sucesso graças a conexões políticas, sorte ou um faro fora do comum para negócios. Geralmente, o primeiro ponto era o mais importante. Agora, não. Com a internet, quem determina o sucesso e a longevidade de uma empresa são as próprias pessoas, que anseiam por serviços de qualidade. Prospera quem atende bem o consumidor e não quem conversa melhor com um polí-tico de partido A ou B.

Não é o momento de impor limites ao empreendedorismo. O Brasil precisa continuar crescendo, gerar emprego e melhorar a renda dos trabalhadores. Limitar o número de empresas que operam no modelo de economia compartilhada, como é o caso de empresas de transporte, como a Buser e a inovadora Mine-Too, de hotelaria, como a AirbnB, fintechs, como o Nu-bank, lazer e turismo, como Onfly, apenas porque falta compreensão da dimensão e importância do novo negócio, é andar na contramão. Seria o mesmo se os Estados Unidos proibissem as pessoas de montar suas em-presas na garagem de suas casas. Microsoft, Apple, HP, Amazon, Google ou até mesmo a Disney jamais teriam virado as gigantes que são e a economia norte-americana com certeza não seria a maior e mais dinâmica do mundo.

É hora de avançar na pauta econômica e tirar todas as amarras que existem e que tornam o Brasil altamente burocrático e desestimulante para quem quer investir, gerar emprego e avanços para todo o conjunto da sociedade. Não cabe mais ao poder público estimular apenas os apaniguados, ou eleger os campeões nacionais, como foi o caso da política fracassada de anos atrás. É hora de estimular a todos, sem exceção. Liberdade de empreender é garantir espaço a todos e não cobrar entrada em clube exclusivo.

*Cientista política e CEO do Grupo Voto

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