A campanha eleitoral já começou. Calma! Estamos falando da eleição do melhor estilo de vinho para tomar nesse verão. Confira o eleito!
O texto é da enófila Karene Vilela (@kvilela) e também pode ser lido na edição 154 da Revista Voto. É a nossa tentativa de harmonizar os temas aqui tratados (política, economia e investimentos) com um bom vinho. Tim-tim e boa leitura!
Por Karene Vilela*
Quem me conhece bem sabe que, do meu ponto de vista, a época mais incrível do ano é o verão. Afinal, criada no Piauí achando que 40°C é normalidade, fica fácil adorar um clima ardentemente quente. Ao contrário do que muitos acreditam, é no verão que o meu consumo de vinhos aumenta. Enquanto a maioria das pessoas associa frio com um bom vinho tinto, eu sou do time que vê um leque de possibilidades de estilos de vinhos diferentes que combinam com o verão. Brancos, tintos leves ou até vinhos fortificados para elaboração de coquetéis – o verão, para mim, deveria ser a estação do ano mais vínica de todas.
Caso eu precisasse eleger um vinho que é realmente a assinatura dos dias mais quentes do ano, claramente o vencedor seria o rosé. Não existe nada mais versátil do que um vinho rosé. Seja na ocasião ou na forma de consumo, bebê-lo é muito menos complicado para quem não é um apreciador de vinhos.
Tradicionalmente, ele era conhecido apenas como um vinho de verão para beber à beira da piscina, no entanto, os rosés mais sérios e premium estão sendo cada vez mais reconhecidos por seu potencial de harmonização gastronômica durante todo o ano. Para quem não gosta de vinhos encorpados, haverá sempre aquele rosé fresco e frutado. No entanto, para os que são do time de estrutura e corpo, não faltarão opções de estruturados e com uma cor bem extraída.
E quando o assunto é cor, muitos mitos já se criaram em torno das cores dos vinhos. As tonalidades dos vinhos rosés podem variar de salmão, pink e casca de cebola até um rubi mais claro. O estilo Provence, em cor salmão bem clarinha, em geral mais seco e delicado no paladar, tem sido copiado em todo o mundo devido ao seu sucesso quando o assunto é qualidade. E aqui vai uma curiosidade: a principal fake news no mundo do vinho é que só o rosé com cor clarinha é de boa qualidade. Essa afirmação é um contrassenso dos grandes. Nem todo vinho com cor salmão é de
alta qualidade. A verdade é que a região da Provence, na França, é uma área focada na produção de vinhos rosés de qualidade inquestionável. No entanto, muitos vinhos de cores com bastante extração podem ser belíssimos exemplos de qualidade. É o caso daqueles produzidos na região de Navarra, na Espanha, ou Tavel, na França.
Intuitivamente, pensamos que a cor do vinho rosé é uma mistura de um tinto diluído com água ou misturado com vinho branco. Na realidade, foi assim que os rosés surgiram 7 a.C. Sabe-se que boa parte dos tintos produzidos pelo Império Romano eram mais rústicos e super tânicos, muitas vezes imbebíveis. Para tornar a bebida mais palatável, era normal diluí-la com água ou misturar com vinho produzido a partir de variedades brancas.
No entanto, hoje um rosé obtém sua bela cor a partir de um contato mais rápido
da casca da uva tinta com o mosto durante o processo de fermentação. Basicamente, o rosé é feito exatamente como o vinho tinto, mas o suco das uvas não fica em contato com as cascas por muito tempo. As cascas dão ao tinto sua cor escura; é onde está o pigmento. Após o esmagamento das uvas, os líquidos e os sólidos entram em contato uns com os outros (esse processo chama-se maceração). Quanto mais longa a maceração, mais escura é a cor do vinho. Para um rosé é apenas uma questão de horas essa maceração. Além disso, os rosés fazem sua maceração em temperaturas mais baixas para preservar os delicados sabores de frutas e os seus aromas. Serão as variedades das uvas usadas nos vinhos que determinarão o perfil de sabores e aromas do vinho final.
Segundo a Rosé Wines World Tracking, o consumo mundial de rosés está em curva ascendente. Em 2019, foram bebidos 23,5 milhões de hectolitros. Essa quantidade é 23% superior ao consumo global em 2002. Nesse mesmo ano, 35% do consumo dos vinhos rosés foi feito pelos franceses, seguidos pelos norte-americanos, com 15%, alemães (7%), italianos (5%) e ingleses (5%). Isso prova que o maior nível de consumo ainda está nos países mais maduros para esse tipo de bebida.
Já no Brasil, em 2014, o share de mercados dos vinhos importados rosés era de 1,8%, segundo a Ideal Consultoria. Terminamos 2019 com eles representando 5,4% dos vinhos importados. No mesmo ano, na Inglaterra, o rosé representava cerca de 12% do volume de vendas de vinho no off-trade (Nielsen).
Quando o assunto é harmonização, como o rosé combina características das uvas tintas com traços da personalidade das uvas brancas (taninos baixos e acidez marcada), ele acaba por combinar perfeitamente com uma grande variedade de pratos. Para um rosé mais leve, recomendo harmonizar com frutos do mar e saladas que ressaltem os sabores frescos do seu vinho, sem sobrecarregar sua personalidade mais delicada. Já para um rosé mais escuro, com um corpo mais pesado, sugiro experimentar com pizza ou carnes brancas grelhadas.
Normalmente, os rosés não são para envelhecer. Sua idade média no mercado deveria ser de até 5 anos, afinal, o objetivo é beber vinhos frescos e aromáticos. No entanto, temos algumas raras exceções que ficam maturando em madeira por anos e são exemplos de vinhos de guarda – é o caso da bebida produzida pela Viña Tondonia. Na minha opinião, o melhor exemplar que você poderá beber na sua vida. Infelizmente, são vinhos “unicórnios”, ou seja, são raros, dificilmente se encontra uma garrafa para comprar.
Independente do estilo, da região ou do preço, o certo mesmo é entrar nessa tendência de beber pink. Consuma vinhos rosés, use a hashtag #drinkpink e entre nesse mundo sem volta. Os rosés irão te conquistar. E você, caro(a) leitor(a), não
irá se arrepender.
#drinkpink
*Enófila por paixão, Karene Vilela (@kvilela) é publicitária formada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Imersa nos vinhos pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e Sommelier formada pela Court Master Sommelier (@court_of_ms_europe). É detentora do título DipWSET (Nível 4 da escola Wine & Spirit Education Trust @wsetglobal), certificada pela Wine Scholar Guild (FWS/IWS/SWS) e CEO da Portus Cale (@portuscalevinhos). Além disso, é sócia idealizadora do projeto Got Wine? (@gotwinesp). Atualmente, é uma das poucas brasileiras a ser aceita como estudante do Instituto Master of Wine (@masterofwine).
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