Quiet quitting: fenômeno maior do que o mundo [corporativo]

Popularizado recentemente, o fenômeno “quiet quitting” retrata aqueles funcionários que estão apenas trabalhando pelo contracheque e não estão realmente emocional ou intelectualmente envolvidos. Assim é chamada a postura daqueles que fazem o mínimo e não vão “acima e além”.

Se traduzido ao pé da letra, o termo significa “desistência silenciosa” ou “demissão silenciosa”, mas, ao contrário do que parece, quem está aderindo a esse novo fenômeno não tem a menor intenção de pedir as contas. Isso porque o conceito vai além do fato de se estar ou não feliz no emprego, e de se demitir do cargo.

O lado cara

De acordo com uma pesquisa do Instituto Gallup, estima-se que pelo menos metade da força de trabalho estadunidense seja adepta dessa espécie de “filosofia”. E, hoje, já se pode traduzir em números a disseminação do movimento — afinal, segundo a mesma pesquisa, a proporção entre funcionários engajados e desengajados é de 1,8 para 1, a menor em quase uma década.

Não há uma causa única, mas toda uma conjuntura que vem fazendo com que essa postura ganhe mais força, como a recente pandemia de Covid-19. De fato, o que se sabe mesmo é que quiet quitting acontece, principalmente, entre pessoas da Geração Z, ou seja, aquelas nascidas entre 1995 e 2010. Isso porque o sentimento de insatisfação com o país e o mundo se reflete em uma postura não combativa, o chamado “protesto silencioso”, uma vez que essa geração ingressa no mercado de trabalho em um momento de mais turbulências.

O lado coroa

Paralelamente, há quem veja o fenômeno com bons olhos: um movimento que força equilíbrio entre carreira e vida pessoal, e que demanda das empresas uma mudança de postura na busca por resultados. Os adeptos desta nova faceta buscam limitar suas tarefas às responsabilidades estritamente necessárias dentro da descrição de seu trabalho para conter longas jornadas. 

“É uma mudança de mentalidade pautada em estabelecer limites do que é necessário para o sucesso no trabalho. São pessoas que cumprem com suas obrigações profissionais, mas não ‘vivem para trabalhar’. Elas acreditam que a vida delas é maior do que o trabalho e a identidade da pessoa é maior do que a identidade profissional”, aponta Tonia Casarin, especialista em liderança socioemocional.

O novo olhar

Mas enxergar o “quiet quitting” somente sob a óptica laboral já está se tornando obsoleto. Hoje, o fenômeno aparece em todos os tipos de relacionamento, nos quais as pessoas vão se desligando umas das outras aos poucos — sinais de que os problemas são maiores do que aparentam ser, expandindo-se para além do mundo corporativo.

Segundo a terapeuta e escritora Lynn Saladino, “desistir silenciosamente de um relacionamento significa parar de exercer a energia, a emoção ou o investimento no futuro que colocou anteriormente. Você ainda está tecnicamente comprometido, mas parou de tentar”. 

Portanto, vale a reflexão: já que o amor é frequentemente falado como um verbo e, se isso for verdade, pela própria natureza de agir e fazer menos, estaremos, consequentemente, amando menos também?

 

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