Artigo: Liberdade perigosa ou escravidão segura?

Moro em um local que não parece ser parte da cidade de São Paulo. O fundo da minha casa é completamente arborizado. Acordamos com tucanos e macacos nas árvores, e os quartos têm janelas que dão para essa vista.

Minha filha tem apenas 8 meses de idade. Desde que tinha 4, depois de eu dar a mamadeira dela pela manhã, olho pela janela do seu quarto e mexo no seu braço como se estivéssemos dando bom dia aos pássaros nas árvores.

Depois de 2 meses repetindo o mesmo gesto, pegando em seu bracinho e fazendo um “olá”, fui surpreendido. A pequena começou a gesticular sozinha. Ao olhar para a janela e me ouvir falando “bom dia, passarinho”, começou a acenar por si só. Minha filha, obviamente, não sabe o que são passarinhos, nem bom dia, nem o que significa o gesto de mexer a mãozinha.

O foco aqui não é falar dela, mas sim da facilidade de fazer com que comportamentos se tornem repetitivos e ocorram de forma automática, sem pensar. Claro que, no caso de uma bebê, não há maldade alguma nisso. Mas é grande a facilidade também para se manipular opiniões.

Hoje em dia, os governos buscam justamente que a sociedade seja refém, econômica e socialmente, de suas políticas de distribuição de renda. E muitas pessoas, sem perceber, ficam “acenando aos pássaros da janela” de forma automática, tornando-se cada vez mais dependentes de políticas populistas.

Uma criança normalmente é criada para o mundo, onde pode e deve se tornar independente dos seus pais e tentar voos mais altos em busca de sua independência financeira. Se fazemos isso com nossos filhos, por que vemos indivíduos que, já adultos, seguem acreditando em falácias populistas que os tornam presos a essas armadilhas?

Quando damos ensinamentos, poder de argumentação e, acima de tudo, educação às pessoas, dificilmente as vemos caminhar no sentido de entregar sua renda, seus valores e seus costumes a outras pessoas. No meu entender, é inerente a nós, seres humanos, que sejamos protagonistas de nossas próprias vidas, assumamos nossas responsabilidades e, com o resultado alcançado, optemos por ser donos de nosso próprio destino. Dificilmente vemos um empreendedor, do menor ao maior, com vontade de entregar sua vida a terceiros.

Já num ambiente de pouca educação, fica mais fácil vender a ideia de que um salvador da pátria tornará melhores as vidas dos cidadãos. Fica mais fácil vender discursos de que eles não precisarão se esforçar ou assumir riscos, uma vez que alguém estará sempre ali para lhes fornecer saúde, comida, educação, moradia, proteção, etc.

Assim como Thomas Jefferson – redator da Declaração de Independência dos Estados Unidos, terceiro presidente daquela nação e um dos fundadores do Partido Democrata-Republicano (já extinto) –, eu também “prefiro a liberdade perigosa que a escravidão segura”.

Lembremos que o Estado não é um indivíduo específico. Ele é formado por cidadãos que, naturalmente, pensam mais em seu próprio bem do que no bem dos outros. Uma economia só será desenvolvida quando os cidadãos forem individualmente produtivos, e não o contrário.

Portanto, não há outro caminho a não ser buscar uma educação de base verdadeiramente profunda, para que essas pessoas cheguem à fase produtiva capazes de gerar seu próprio sustento, empreender (seja com sua própria empresa ou até mesmo em empresas dos outros) e, assim, criarmos um país com capacidade produtiva individual. As soluções criadas pelo homem nunca aconteceram por causa do Estado, mas, sim, apesar do Estado.

Essas soluções empreendedoras criadas individualmente têm o objetivo de fazer seu inventor conhecido ou rico. Qual o problema nisso? Nenhum. Afinal, essas inovações tendem a melhorar a vida da sociedade como um todo.

Pensemos em algumas delas – a roda, o celular, a internet e tantas outras –, que fazem parte do nosso dia a dia e das quais, de forma automática, nem nos damos mais conta, mas que tornam nossas vidas muito mais simples e produtivas.

O que proponho é começarmos a estabelecer um debate para que aprofundemos mais nossos conhecimentos.  As conversas levam a mais informações, estudos dissipam a ignorância. E isso nos possibilita raciocinar com mais clareza, questionar o que muitas vezes nos é imposto como verdade.

Fazer uma criança acenar aos pássaros nas árvores apenas me permite ter momentos felizes com minha filha, mas fazer com que pessoas acenem positivamente para políticas que as fazem entregar suas vidas a governos endividados parece-me um tanto quanto cruel. Isso é e sempre foi assim.

Como sair desse círculo vicioso? Dando mais poder à vida das pessoas, com diminuição do tamanho desse Estado inchado e ineficiente, que suga todas as receitas para si e praticamente não tem espaço para investir.

Costumamos falar que o Brasil tem 500 anos. Mas acredito que, rumo a uma sociedade desenvolvida, começamos a caminhar apenas no século XX. Somos, assim, uma sociedade muito nova. Com a quantidade e o nível de informações e dados alcançados graças à internet, vejo uma luz no fim do túnel. Imagino os brasileiros questionando se querem ficar “dando bom dia aos pássaros” só porque alguém mandou, ou se preferem assumir as rédeas de suas vidas.

Não tenhamos medo. Os que se dizem salvadores de nossas vidas (Estados e governos) são, na verdade, a causa dos problemas econômicos do país, nos médio e longo prazos.

 

BRUNO MUSA – Economista e sócio da Acqua Investimentos. Criador do canal Minuto do Musa e da Empreende & Educa (E&E)

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