Brasil de Ideias Avante Canoas debate a Educação

Em educação, o Brasil é um caso atípico. O salto de escolaridade entre 1980 e 2010 deveria ter se traduzido em alta na produtividade. Deveria, mas não ocorreu. Para discutir as razões disso e de outros dramas do ensino brasileiro, a Revista VOTO, em conjunto com a prefeitura de Canoas, realizou na manhã deste 10 de julho o encontro Avante, Canoas! Participaram do painel o secretário estadual da Educação, Ronald Krummenauer, a escritora Lya Luft e o diretor de Políticas Educacionais do Movimento Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho.

Na abertura do encontro, realizado no Sesc Canoas, o prefeito Luiz Carlos Busato agradeceu à diretora da VOTO, Karim Miskulin, a oportunidade de discussão trazida pelo evento para a cidade metropolitana e aproveitou para falar sobre o programa Mãos à Obra. Lançado no mesmo dia, o conjunto de ações foca na reestruturação física das escolas. “O ambiente de trabalho é um dos vetores importantes para o sucesso na qualidade de ensino”, explicou. “O objetivo é colocar padrões mínimos de qualidade para as condições das professores desenvolverem o seu trabalho.” Ao final do encontro, a vice-prefeita Gisele Uequed destacou os esforços para combater a evasão escolar, que “tem uma grande influência na criminalidade”.

Confira a seguir a síntese das exposições dos três painelistas:

Olavo: Todos pela Educação

O Movimento Todos pela Educação é uma ONG suprapartidária que propõe uma questão estratégica: “O que faz uma sociedade ser referência em Educação?” As respostas estão no quanto essa sociedade tem um sistema educacional capaz de promover igualdade de oportunidade, possibilita aos jovens no final da educação básica um amplo leque de escolhas e valoriza o conhecimento.

“A educação é parte central de um projeto de país”, salientou Olavo Nogueira Filho, ao rejeitar a ideia de que apenas educadores confinados em uma bolha discutam os problemas do ensino.

É preciso envolver todos os setores. Trecho do relatório mais recente da Unesco, por ele citado, alerta: “Se quisermos alcançar um desenvolvimento que seja sustentável, outros setores devem considerar a educação como uma parceira em seus planos de mudança”.

Olavo expôs um levantamento preocupante, ao apontar o Brasil como um caso atípico em que maior escolaridade não se traduz em alta produtividade. As razões estão no fato de que o país concentrou os esforços muito no aspecto quantitativo e fraquejou no qualitativo.

De cada 100 estudantes que ingressam na escola, 96 concluem a primeira parte do Fundamental, 83 concluem a segunda parte do Fundamental, 65 concluem o Ensino Médio e sete seguem para a universidade.

Ao fazer uma análise qualitativa dos 65 que concluem o Ensino Médio, quase metade (44%, em estatística de 2015) é abaixo do básico para o desempenho em língua portuguesa e a maioria é aquém do adequado (79%). Em contrapartida, a população carcerária está aumentando. A maioria (56%) possui entre 18 e 29 anos, e 53% não completou o Ensino Fundamental.

Um das mudanças importantes necessárias é a valorização do educador. Conforme Olavo, ao pesquisar os atributos mais valorizados pelos alunos em relação ao professor, os três primeiros lugares nas respostas do alunos do Ensino Médio  foram:

1º – A paixão do professor

2º – O professor que não desiste do aluno

3º – O professor que cobra comprometimento

Lya Luft: “O ser humano cresce na derrota”
Os problemas da educação têm a ver com todos os problemas do Brasil, lembrou Lya Luft. Mesmo reconhecendo a precariedade do ensino e, de um modo geral, dos valores dos brasileiros, a escritora apresentou uma visão com alguma dose de otimismo.

“O ser humano cresce na derrota”, afirmou. “A gente melhora nas crises. Isso nos dá uma certa esperança.”

Ao descer ao “fundo do poço”, a sociedade se obriga a enfrentar as suas chagas. Uma delas, no entender de Lya, é a infantilização,  “quase uma imbecilização”, dos estudantes.

“Exigimos muito pouco deles”, observou Lya. “Quando eu era professora, costumava dizer aos alunos: ‘Vocês são muito melhores do que a sociedade faz vocês pensarem que são’. Eu recebia na faculdade de Letras alunos que não conseguiam expressar o pensamento.”

A escritora, que lecionou Linguística, lamenta uma “ilusão semântica” coletiva, nociva por dar mais importância aos termos politicamente corretos do que ao real combate aos erros em busca de soluções:

“Não se pode mais usar a palavra reprovado, e jovens de 15 anos que assassinam não são presos, mas conduzidos.”

Para a mudança, Lya acredita mais em reformas individuais do que em iniciativas de cima para baixo.
“Nós temos de exigir mais de nós mesmos”, defendeu.

Krummenauer: é preciso falar em qualidade

O secretário estadual da Educação, Ronald Krummenauer, observou que o Brasil foi o país que mais avançou na questão quantitativa o acesso à escola. Foi uma revolução quantitativa. O problema todo é que a parte qualitativa. De modo geral, o Brasil está mal. No caso particular do Rio Grande do Sul, passou de referência a um resultado mediano. Um dos fatores que levaram a isso é a falta de prioridade para a questão da qualidade do ensino:

“Nos últimos 20, 30 anos, o debate da educação ficou entre governo do Estado e sindicato de professores, como se nada mais tivesse de ser discutido. É claro que a pauta de reivindicações dos professores deve ser discutida, mas há muitas outras questões também. A valorização do magistério é algo importante e decisivo mas não deve ser isolada.”

Em seus dois meses como secretário da Educação, Krummenauer se disse surpreso com o fato de que, nas diversas demandas que chegam à secretaria, “não se fala da pedagogia, do aluno e da melhora da educação, como se fosse um contexto fora da regra”.

Ele afirmou que algumas ações para melhorar a educação não precisam esperar pelo fim da crise econômica. Entre elas está a melhor gestão do recursos. Um exemplo: “Não tem sentido termos escolas de porte e contexto semelhantes com gastos diferentes”. É preciso rever conceitos, porque os modelos atuais já mostraram o fracasso.”

Por Altair Nobre/RevistaVoto

 

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