Instituto Millenium: “Existe um momento global oportuno para a agenda liberal”

O ano é 2005. Unidos na busca pela representação política de um pensamento de centro direita moderno, empresários, sociólogos, economistas, jornalistas e grandes lideranças brasileiras se articulam, ao lado da economista Patrícia Carlos de Andrade e do professor de filosofia Denis Rosenfield, para a criação do então Instituto de Estudos da Realidade Nacional. Naquele período, seus fundadores dedicaram-se a difundir o que acreditavam que faltava ao Brasil: ideias liberais capazes de construir um capital simbólico importante na agenda de soluções para problemas sociais e econômicos do país.

Pouco tempo depois, a instituição passou a chamar-se Instituto Millenium – hoje considerado um dos principais precursores de ideias liberais no Brasil. O Instituto é um think thank, organização de pesquisa e advocacy sem fins lucrativos que produz pesquisas, análises e estudos embasados em dados e evidências, para subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas e contribuir com o debate sobre temas relevantes. 

Em entrevista exclusiva a Revista VOTO, o CEO Diogo Costa, que assumiu o cargo em janeiro de 2023, conta sobre o processo de reestruturação vivido pelo Instituto 18 anos após sua fundação; fala sobre a defesa de governos liberais que usam a livre iniciativa, e não a administração pública, como motor de crescimento; e os desafios e possibilidades que podem surgir a partir do atual momento político e econômico brasileiro.

VOTO – Qual o papel do Instituto Millenium no contexto de think thanks no Brasil?
Diogo Costa – O Instituto Millenium tem um papel fundamental na construção de uma sociedade aberta e inovadora. Como think tank, precisamos estar na vanguarda da produção de conhecimento e da construção de soluções políticas inovadoras para os desafios do mundo atual. Nosso desafio é criar uma agenda de produção de conhecimento que esteja conectada com as necessidades reais das pessoas e que promova a inovação e a agilidade institucional. Para isso, precisamos trazer para o Brasil as novas tendências da abertura social, como as tecnologias emergentes, o futuro das cidades e do trabalho. Estamos trabalhando para desenvolver novas vozes para pesquisar e disseminar esses temas e para sermos uma referência no cenário de think tanks no Brasil. 

VOTO – Como pretendem impactar positivamente a sociedade neste período de instabilidade política? O novo cenário possibilita que o liberalismo ganhe fôlego no país?
Diogo Costa – Estamos animados com o desafio de impactar positivamente a sociedade em um período de instabilidade política. Acreditamos que é possível superar as divisões ideológicas e construir uma agenda de soluções conectada aos problemas reais que as pessoas enfrentam no dia a dia. Temos a oportunidade de liderar uma mudança na forma como a sociedade se relaciona com a economia e a política, abrindo caminho para uma nova era de inovação e prosperidade. Esse período é uma oportunidade para as democracias liberais mostrarem que são os sistemas mais capazes de resolver os grandes desafios sociais, como a retomada da produtividade e da mobilidade social, a transição energética e a revitalização das nossas cidades. O Instituto Millenium está comprometido em promover uma agenda de desenvolvimento baseada em evidências e dados, com soluções que tragam impacto real para as pessoas e para o país.

VOTO – Como fazer a agenda liberal avançar?
Diogo Costa – Existe um momento global muito oportuno para uma nova agenda liberal. As pessoas estão cansadas de polarização e populismo, e em busca de soluções reais dentro da liberal democracia. Há uma gama de novas soluções sendo propostas que une novas tecnologias, como IA e criptoativos, com tecnologias antigas, como adensamento habitacional e infraestrutura concreta. É isso que organizações da sociedade aberta podem oferecer a tomadores de decisão: soluções concretas que transcendam a polarização. 

VOTO – Costumam “culpar” a agenda liberalista pela desigualdade no Brasil. Acredita que a questão social pode ter protagonismo no pensamento econômico liberal?
Diogo Costa – Algumas das soluções sociais mais eficientes e inovadoras, como renda básica, escolas-modelo e aluguel social, vieram da caneta de autores liberais. Mas, além disso, não podemos nos esquecer de que o estado é um grande gerador de desigualdades no Brasil. Já houve estimativa de que ⅓ da desigualdade no Brasil é causada pelas transferências estatais para grupos de alta renda. 

VOTO – Como o Instituto enxerga e se posiciona frente à pauta de restrições de liberdades?
Diogo Costa – A sociedade aberta pode ser compreendida por quatro dimensões de liberdades humanas: a liberdade econômica, baseada no empreendedorismo; a liberdade política, que se ergue sobre o estado de direito e os mecanismos de legitimidade democrática; a liberdade cultural, que tolera diferentes estilos de vida; e finalmente, mas não menos importante, a liberdade epistêmica, que permite a todos a busca pela verdade, sem que uma verdade parcial seja imposta sobre os demais. Defender a sociedade aberta, como faz o Instituto Millenium, é defender a liberdade nessas quatro dimensões.

VOTO – Quem são os especialistas que hoje atuam no Instituto Millenium? Esse quadro vem se reestruturando?
Diogo Costa – O quadro de especialistas do Instituto Millenium é formado por pesquisadores, acadêmicos e profissionais de diferentes áreas do conhecimento. Estamos passando por um processo de atualização e repactuação. Queremos combinar os especialistas consagrados, históricos do Millenium, com uma nova geração de vozes que prometem construir os próximos capítulos da história da sociedade aberta.

 

*Crédito da foto: Ana Paula Fornari Benvegnu

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