Irã promete retaliação: possíveis consequências após a morte do líder do Hamas

O Irã prometeu vingar a morte de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, que foi morto em um ataque aéreo noturno em Teerã, conforme reportado pela imprensa iraniana. 

O Hamas e seu principal financiador, o Irã, acusam Israel de ser responsável pelo ataque. Israel ainda não se pronunciou, mas já havia declarado sua intenção de eliminar os líderes do Hamas.

A morte de Haniyeh, ocorrida poucas horas após um ataque israelense contra um comandante do grupo Hezbollah no Líbano, aumenta as preocupações de um possível conflito mais amplo no Oriente Médio e pode atrasar os esforços para um cessar-fogo em Gaza, onde Haniyeh tinha um papel importante nas negociações.

O Irã declarou três dias de luto pela morte de Haniyeh. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que Israel “se arrependerá” da morte “covarde” de Haniyeh e disse que o Irã defenderá “sua integridade territorial e dignidade”.

Haniyeh estava em Teerã para a cerimônia de posse de Pezeshkian, apesar de viver no Catar sob intensa proteção.

O líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, afirmou que vingar a morte de Haniyeh é um “dever de Teerã” e que Israel, ao não assumir a responsabilidade pelo ataque, criou condições para uma “punição severa”.

Potencial escalada do conflito

Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC, avisa que este é um período “extremamente perigoso” para o Oriente Médio. Ele relembra que, na última vez em que o Irã prometeu retaliação, lançou centenas de mísseis e drones contra Israel, que respondeu com um ataque de mísseis próximo às instalações nucleares iranianas.

“Foi necessário um esforço diplomático frenético para dissuadir Israel de retaliar com mais intensidade”, afirma Gardner. Kasra Naji, correspondente especial da BBC Persa, expressa preocupação com a reação do Irã, que pode envolver ataques em grande escala contra Israel ou uma intensificação dos ataques das milícias regionais, como o Hezbollah.

“É difícil prever se isso levará a uma guerra total na região, mas é claro que ninguém deseja esse desfecho no momento”, observa Naji.

Gardner também lembra que nem todos os ataques semelhantes a esse resultaram em uma escalada no passado. 

Ele cita o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, ordenado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump em 2020, que provocou fortes apelos por vingança, mas resultou em uma resposta relativamente contida. 

Gardner também menciona o ataque aéreo ordenado pelo então presidente americano Ronald Reagan contra a Líbia em 1986, que gerou temores de uma grande crise, mas acabou não resultando em uma escalada significativa.

Impacto nos esforços de paz

A morte de Haniyeh pode tornar as negociações de paz entre Israel e o Hamas ainda mais complicadas.

“Este recente ataque em Teerã pode dificultar a obtenção de uma trégua, já que o Hamas agora estará focado em encontrar um substituto para Haniyeh, em um processo que pode ser complicado e demorado”, afirma Rushdi Abualouf, correspondente da BBC em Gaza.

Ele relembra que, em dezembro, o Hamas suspendeu temporariamente as negociações de cessar-fogo com Israel após o assassinato do vice de Haniyeh na capital libanesa, Beirute.

Paul Adams, correspondente diplomático da BBC, acrescenta que é “extremamente difícil” prever qualquer progresso nas negociações após a morte de Haniyeh. 

“Ismail Haniyeh pode não ter sido responsável pelos eventos diários em Gaza — essa é a área do comandante militar Yahya Sinwar — mas, como líder do Hamas no exílio, ele era um interlocutor crucial nas negociações intermediadas pelo Catar, pelos EUA e pelo Egito”, observa.

Declarações de países árabes reforçam essas preocupações.

Líderes palestinos:

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou o assassinato, assim como o primeiro-ministro, Mohammad Mustafa. Hussein Al-Sheikh, secretário-geral do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina, também denunciou o ato.

Irã:

Vingar o assassinato do líder do Hamas é um “dever de Teerã” porque ocorreu na capital iraniana, declarou o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, nesta quarta-feira (31). Ele afirmou que Israel havia criado motivos para uma “punição severa” contra si mesmo.

Estados Unidos:

A Casa Branca tomou conhecimento dos relatos sobre o assassinato de Haniyeh, informou um porta-voz, mas se recusou a comentar de imediato. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, afirmou que não considera a guerra no Oriente Médio inevitável, mas que, se Israel fosse atacado, os EUA ajudariam a defendê-lo.

Catar: 

O Catar, que abriga o escritório político do Hamas liderado por Haniyeh, chamou o assassinato de um “crime hediondo” e uma “escalada perigosa”.

China:

Pequim “se opõe firmemente e condena o assassinato” de Haniyeh, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, acrescentando que “Gaza deve alcançar um cessar-fogo abrangente e permanente o mais rápido possível para evitar uma maior escalada de conflitos e confrontos”.

Turquia: 

O presidente Recep Tayyip Erdogan condenou energicamente o assassinato, descrevendo-o como um “ato traiçoeiro” e “desprezível”. Ele pareceu culpar Israel em sua declaração, afirmando que “a barbárie sionista não conseguirá atingir seus objetivos agora, como falhou antes”. O presidente acrescentou que a Turquia continuará a apoiar o povo palestino.

Rússia:

O vice-ministro das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, classificou o assassinato de Haniyeh como um “assassinato político absolutamente inaceitável”, enquanto o Ministério das Relações Exteriores alertou sobre “consequências perigosas para toda a região”, pedindo aos estados envolvidos que “exerçam contenção”.

Brasil:

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou, nesta quarta-feira, 31, os ataques conduzidos por Israel em Beirute, a capital do Líbano, contra alvos do Hezbollah, assim como a morte do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irã. O Brasil expressou extrema preocupação com a escalada do conflito e fez um apelo à comunidade internacional para conter o agravamento da situação.

“O governo brasileiro condena veementemente o assassinato do chefe do Escritório Político do Hamas, Ismail Haniyeh”, declarou o Itamaraty em nota. O texto continua afirmando que o Brasil repudia “flagrante desrespeito” à integridade territorial do Irã e que atos de violência, sob qualquer motivação, não contribuem para a paz no Oriente Médio.

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