A legitimidade contestada da reeleição de Nicolás Maduro

Por Karim Miskulin

O presidente venezuelano Nicolás Maduro se anunciou como vitorioso na corrida presidencial em uma eleição  marcada por suspeitas e desconfianças. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com estreitos laços ao governo de Maduro, proclamou a vitória com 51,2% dos votos antes mesmo do término da contagem. Por outro lado, a oposição alega fraude massiva, afirmando que, na realidade, conquistou 70% dos votos, contra apenas 30% para Maduro.

Não é surpresa que Maduro, com seu histórico autoritário, tenha manipulado o processo eleitoral para garantir sua reeleição. Conhecendo suas ações passadas, era previsível que ele não permitiria ser derrotado, independentemente do resultado real das urnas. As eleições na Venezuela há muito tempo deixaram de ser legítimas, e os eventos recentes apenas reforçam essa triste realidade. 

A pré-campanha já indicava o desfecho que testemunhamos. Diversos vídeos circulando na internet mostram brasileiros, chilenos e até ex-presidentes que foram impedidos de entrar na Venezuela para observar o processo eleitoral. Essas ações pré-eleitorais, combinadas com a presença maciça de forças de segurança nas ruas, deixavam claro que a oposição, vencendo ou não, jamais teria sua vitória reconhecida. Maduro domina o sistema político e eleitoral do país, e quando um sistema está nas mãos de um homem autoritário, a história nos mostra que é quase impossível uma verdadeira mudança.

O que realmente surpreende é a postura do Brasil. Como a maior potência da América Latina, era esperado que o Brasil se posicionasse de forma clara e firme em relação à legitimidade dessas eleições. No entanto, o governo brasileiro tem se mantido cauteloso, aguardando um posicionamento da ONU. O Brasil, conhecendo bem a situação na Venezuela e tendo um histórico de relações diplomáticas com o país, deveria ser um defensor vigoroso da democracia e dos direitos humanos.

Além das questões eleitorais, é impossível ignorar a crise humanitária devastadora que a Venezuela enfrenta. Milhões de venezuelanos têm fugido do país, buscando refúgio em nações vizinhas, especialmente no Brasil. A emigração em massa é um testemunho doloroso da falência do regime em garantir condições básicas de vida para seu povo. Famílias inteiras são forçadas a abandonar suas casas, empregos e comunidades, buscando segurança e oportunidades em terras estrangeiras.

No Brasil, temos assistido de perto ao sofrimento desses refugiados. Em Roraima e outras regiões fronteiriças, a chegada constante de venezuelanos coloca pressão sobre recursos locais, mas também destaca a solidariedade do povo brasileiro. Temos visto organizações humanitárias e indivíduos comuns se mobilizando para oferecer assistência e acolhimento a esses irmãos em necessidade.

A fome é outro flagelo que assola a Venezuela. A escassez de alimentos e a inflação galopante tornaram a alimentação adequada um luxo inacessível para muitos. Relatos de desnutrição e fome extrema são comuns, pintando um quadro sombrio de um país outrora próspero. É inadmissível que, em pleno século XXI, uma nação com recursos tão abundantes esteja mergulhada em uma crise humanitária dessa magnitude.

Enquanto isso, a comunidade internacional deve continuar a pressionar por auditorias independentes e pela divulgação completa dos resultados eleitorais. Só assim poderemos garantir que a vontade do povo venezuelano seja verdadeiramente respeitada. O mundo está de olho, e a Venezuela merece nada menos do que uma eleição justa e transparente.

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