“Nem o Sig é capaz de imitar o Sig”

É comum a ideia de que o segredo do sucesso nos negócios está na capacidade de definir quem se é pelo que se faz e, principalmente, pelo que se escolhe não fazer. No entanto, Sig Bergamin, o maior nome brasileiro na arquitetura e design de interiores contemporâneos, desafia essa teoria às vésperas de completar cinquenta anos de prática.

“Eu gosto de tudo. Absolutamente tudo”. Mundialmente reconhecido pela mistura de cores, padrões e texturas, Sig Bergamin recebeu a equipe de reportagem da Revista Voto para uma entrevista exclusiva em seu escritório, localizado no coração do Jardim América. Essa região nobre de São Paulo é conhecida pela concentração de lojas boutiques de móveis e decoração. “Estou aqui neste ponto há 28 anos. Cheguei quando não havia nada e nem ninguém perto da Alameda Gabriel Monteiro da Silva”, relembra.

O sucesso de Bergamin é intrínseco à sua autenticidade e à sua personalidade vanguardista. “Vejo que todos seguem uma fórmula massificante. Eu sempre tento sair da curva. Enquanto todos vão ao Salão do Móvel de Milão em busca de inspiração, eu vou para a Índia. Lá, estou no meio de um campo de mostarda, vejo uma mulher com um sári colorido passando e o contraste das cores dessa cena é como um flash“, descreve ao tentar definir a singularidade de seus projetos.

“Não considero que os meus projetos sejam os mais bonitos. Mas acho que eles têm alma. No meu processo criativo, é como se eu adicionasse pimenta, tabasco. Fica diferente! Nizan Guanaes, meu amigo e cliente, diz que nem eu consigo imitar a mim mesmo”, ri. Ao entrar em uma casa decorada por Bergamin, dificilmente você identificará imediatamente sua assinatura, pois cada residência tem personalidades distinta. “Minha premissa é fazer com que o cliente se sinta confortável. Para isso, eu procuro entender o que ele quer e ofereço algo que não seja básico.”

Maximalismo: a vida aos pedaços

Bergamin, nascido em Mirassol, interior de São Paulo, mudou-se para a capital aos 15 anos para concluir o ensino médio e se preparar para o vestibular. “Fui aprovado em quatro cursos de Arquitetura e Urbanismo, mas escolhi o mais acessível financeiramente, pois meus pais não tinham muitos recursos. Aos 22 anos, abri meu primeiro escritório”, recorda.

Crializado como uma das mentes criativas mais icônicas do país, Bergamin atualmente lidera uma equipe de 20 profissionais. Ele fala sobre o processo de crescimento e dá um conselho para o seu eu mais jovem no início da carreira. “Eu diria para não ter medo. O medo provoca pânico. Quando você está começando, montando um escritório, o medo de não conseguir pagar o aluguel ou manter seu estilo de vida pode ser avassalador. Se eu pudesse voltar, teria mais confiança em mim mesmo”.

O maximalismo tem sido uma característica marcante desde o início de sua carreira, refletindo seu lifestyle. Ele frequentemente está com o pé no aeroporto e a inquietude na mala, dividindo-se entre suas propriedades em Paris, Nova York e Miami, e seus clientes no Brasil, Itália e Inglaterra, entre outros países. “Não gosto de pensar que estou no topo. Sabe por quê? Porque o topo é muito relativo. Claro, sei que tenho sucesso, senão não teria um livro ou tudo que possuo. Mas se acreditar que estou no topo, posso me tornar esnobe. E essa pessoa não sou eu. Sou simples”.

Ouvir o cliente e propor sobreposições, formas e tecidos é uma regra básica em seus projetos. Isso pode ser, por vezes, uma arte de convencimento, principalmente em uma sociedade cada vez mais homogênea. “As pessoas têm medo de se arriscar e acabam optando pelo prático. Afinal, o básico não tem erro. Você pode entrar em qualquer loja e montar uma casa bonita. Mas eu não gosto disso. Prefiro algo simples, mas com aquela toalha de mesa que tem uma história. Prefiro uma casa com personalidade a uma sem alma. Acho importante não ter medo de expressar a vida em casa”, diz. 

O arquiteto, cuja mesa de trabalho está repleta de publicações, define o conceito de sua bagunça criativa com a simplicidade que reflete sua personalidade: “Maximalismo para mim é a coleção da tua vida, com seus quadros, seus livros. Eu não consigo morar no céu. Ainda não fui para lá para tudo ficar branco, sem nada”, brinca.

Parar, nem pensar

Apesar de divertido, o trabalho tem horário definido para começar e terminar. “Quando estou no Brasil, sou muito disciplinado. Vou à academia às sete da manhã, volto, atendo um cliente, almoço no escritório, durmo 40 minutos na sala com minhas cachorras. No máximo, às 18h30, vou embora. Faço barba, pé e mão, vou comer comida japonesa – gosto de comer cedo. Já o Murilo (Lomas), meu marido, chega às 18h e decide que quer ir a uma serralheria no Brás. Eu entro em pânico. Eu não vou! Gosto de tudo organizado. E minhas cachorras também”. O arquiteto tem duas bulldogs francesas, China e Índia.

Uma fonte criativa, o arquiteto é inimigo do fim e se recusa a cogitar a aposentadoria. “Há muito tempo eu poderia ter me aposentado. Mas não consigo. Nem pensar! Sabe o que é aposentadoria para mim? É escolher os clientes!”, define. Para ele, parar de trabalhar é sinônimo de parar de viver. “Na aposentadoria você envelhece mais rápido. Eu não pretendo me aposentar, de trabalho, de sexo, de nada. Quero poder fazer amor até o dia da minha morte”, brinca.